quarta-feira, 3 de agosto de 2011

It does not make sense! Perguntar não ofende...

          Algumas incoerências da sociedade brasileira retratam a incompatibilidade latente entre o poder econômico e os valores morais. Como dizem que o que move o mundo são as perguntas, vou escrever segundo a metodologia de Platão. Porque no Brasil as propagandas de carros exaltam a potência do motor, como um símbolo de virilidade, incentivando o motorista a acelerar em busca de experiências e aventuras inesquecíveis, e a velocidade máxima permitida em nossas vias é de 120 Km/h?
          A temática do automóvel leva a outra hipocrisia latente no Brasil: a trágica combinação entre álcool e direção. Porque as propagandas exaltando o éden pós-moderno, com beldades se insinuando para os jovens que enchem o copo, cinicamente nos informam: beba com moderação? A galera fica só no vira-vira.
          Fatalmente, o mercado publicitário brasileiro é dominado por esses dois segmentos: cerveja e veículos, e a mensagem que passam ao cidadão é que para ser uma pessoa bem-sucedida, rodeada de amigos e belas mulheres (vale para elas também) é indispensável possuir um bom carro e fazer uma boa farra regada a cerveja. O poder econômico destes segmentos anulam qualquer validade de um imperativo moral e também a possibilidade de informar a sociedade, de maneira responsável, sobre questões relevantes, como meio ambiente (imagine um futuro com carros elétricos que andam no máximo a 120 km/h?), saúde (álcool é droga e causa dependência, certo?) e educação (afinal, a futilidade do jovem brasileiro - ah, o facebook - advém, em grande parte, da pouca reflexão sobre o padrão de vida difundido pelo mercado publicitário).
          A formação intelectual do jovem brasileiro é balizada pelo culto à farra. Então, quando se desenvolve uma lei seca, a questão se torna: como fugir dela. Quando se tem os radares nas vias, a questão se torna: aonde estão? E as tecnologias de comunicação (twiter e gps) servem como ferramentas para as pessoas driblarem as parcas formas de controle do Estado, e continuarem bebendo e acelerando. Enquanto isso, as propagandas continuam exaltando os mesmos valores. Por valores tão importantes, vale a pena driblar esses obstáculos para que o brazilian way of life seja preservado.