O artigo do Deputado Federal Alfredo Sirkis na Folha de hoje é um retrato do antagonismo entre a práxis da política partidária brasileira e a democratização da cidadania. O Deputado declara sua solidariedade à Marina Silva, que optou por se desprender das amarras fisiológicas de um partido que nunca amadureceu - sem trocadilhos com o nome “verde”.
As práticas antidemocráticas do PV - presidido desde 1999 por José Luiz Penna - infelizmente, práticas típicas da cultura clientelista que impera nas estruturas partidárias brasileiras –- levaram Marina a se afastar da sigla, um anos depois de ter angariado 20 milhões de votos nas eleições presidenciais. Marina sabe, todavia, que esses 20 milhões de votos não foram exclusivamente para o partido – devido à retórica ambientalista – ou para ela – por conta de uma possível liderança carismática. Foram 20 milhões de votos para a alternativa de uma práxis política desprendida dos entraves do “establishment”, o que Sirkis denomina cartório eleitoral.
Nosso voto (estou entre os 20 milhões) não foi para a bandeira verde ou para a corajosa mulher que a empunhou com maior legitimidade no cenário nacional. Votamos na proposta de uma mudança de paradigma, ou melhor, no paradigma da mudança; votamos na possibilidade de reformulação da política brasileira, com a abertura dos canais do poder à sociedade civil; votamos na possibilidade de vivenciarmos uma nova estrutura de poder, na qual o encontro da sociedade de massas com a sociedade da informação em rede permitiria a experiência mais próxima da democracia direta idealizada na era grega. Essa nova estrutura sonhada por esses 20 milhões serviria com força motriz para um projeto de nação em direção à sustentabilidade e à cidadania.
Sirkis afirma: “não desejamos caracterizar nossa ação como mais um “racha” típico de partido...foi mais um transbordamento de uma estrutura apequenada, que não soube nem quis assimilar o potencial extraordinário gerado pelos 20 milhões de votos conquistados”. Resgatando a leitura de Gramsci que escrevi em artigo nesse blog, Marina tem os atributos para desempenhar o papel do intelectual orgânico cibernético, que usa as redes sociais para desobstruir e multiplicar os canais de entrada da sociedade civil na sociedade política. É dessa forma, potencializando a capilaridade e a circulação das redes nos meios de poder que o potencial de fiscalização e de cobrança dos eleitores poderão se tornar imperativos éticos que moralizem a política brasileira.